sábado, 10 de abril de 2010

Há menos uma pessoa na minha vida

Morreu durante o sono, sem apelo nem agravo. Só agora consegui arrastar-me até aqui para escrever sobre isso. Eu já não estava com ela desde o Natal, na Páscoa fiquei retida em Lisboa por causa do trabalho e ela disse à minha irmã que me queria ver. Não me larga o pensamento de que ela foi sem que eu me tivesse despedido, uma pessoa que era uma certeza na minha vida desapareceu sem que eu lhe tivesse dito adeus e agora a última recordação que tenho dela é a vaga lembrança de um beijo apressado para não perder o comboio. Corta-me aos pedaços este pensamento. Desde que eu fui para a universidade e só ia a casa aos fins-de-semana, ela era a pessoa que parava tudo para me fazer cabidela ou canja de galinha, fosse de que maneira fosse só porque sabia que eu adoro. Cada vez que ia a casa, obrigava-me a trazer quilos de comida, nem que os metesse na minha mala sem eu ver. Uma mulher extraordinária que passou a vida a cuidar de toda a gente, já não há pessoas assim, que abdiquem da própria vida e façam das dos outros a delas, sem que isso seja uma obrigação mas um dever. É como se desaparecesse um bocado da minha história, da minha educação e o meu maior medo é que ela se tenha sentido sozinha nos últimos dias, mesmo que eu saiba que não. Foi uma das pessoas que mais fez por mim, a minha tia-avó. Queria ter-lhe dito isso e agradecer-lhe e não o fiz, sei que o fiz de outras maneiras mas faltaram as palavras que ela gostaria de ter ouvido. Agora tenho entalada na garganta a certeza egoísta de que despareceu mais uma pessoa que gostava honestamente de mim, aquelas raridades a quem podemos confiar amor e carinho, para dar e receber. Não sei o que é feito de ti mas vais viver sempre em mim Gininha, tem a certeza que há pessoas que vão sentir a tua falta, eu sou uma delas.

4 comentários:

MC disse...

Que post triste...

Vá, a vida continua e, de certeza, lá para onde vão sabem muito mais que nós... Sabe o quanto gostavas dela, de certeza!

Aproveita o dia e vai apanhar sol... Quem sabe, sentada numa esplanada, não muda o vento...

Beijinhos

Margaret disse...

shh... despede-te dela agora, em alto, sozinha. ela saberá ;)

Emma Bovary disse...

Miguel, não fui para uma esplanada, para variar fui ao cinema ver uma comédia a ver se as coisas animam. A comédia não era assim tão boa mas pronto, deu para apanhar ar... :)

Alguém, eu sei que sim. Ainda precisava de conversar com alguém (lol) quando escrevi o post... Mas acho que tirei aquele peso de cima de mim. :)

Poetic Girl disse...

Lamento querida. Mas ela de onde está sabe o que sentes, está ao teu lado para te continuar a amparar, eu acredito que sim! Beijo grande e força... bjs