Post de Natal

O ser humano é pequeno o suficiente para ser uma criatura de hábitos. Se não o fosse, abraçava este Natal e Ano Novo com o espírito aberto de quem quer e pode começar de novo e, talvez, começar melhor. Mas não. Este Natal as coisas pequenas vão dar cabo de mim e no Ano Novo ainda vai ser pior. Há dois anos por esta altura tinha o coração no estômago e queria viver a vida devagar, tinha mil e uma músicas que andava a descobrir melhor, mil e um filmes que comecei a admirar com mais atenção. Tinha certezas, tinha segurança. As coisas saíram-me debaixo dos pés sem eu me dar bem conta e a vida teve que seguir em frente. Mas não para mim. Eu tenho uma ferida e o meu corpo não cresce à volta. Há músicas que me doem, há pensamentos que me rasgam. Como o de ter a certeza de que só me dói a mim, de que só eu me deixei ficar para trás. Quero-me muito de volta, quero a A. que vai sozinha ao cinema porque gosta, que desencanta a melhor música antes que toda a gente, que é capaz de sair de casa debaixo de uma chuva torrencial para ir comer um pastel de nata, a A. que sabe o que quer, que se está bem a cagar para o que os outros pensam dela. Este ano vou-me concentrar na minha família, nos que estão lá sempre, nos meus amigos, nos que nunca me viram as costas. Este ano, em vez de me concentrar no que perdi (!!), tenho que me concentrar no que ainda posso ganhar. E pode ser muito. Só preciso de me ter de volta e de acreditar em mim. Sei o que tenho para dar, sei o que quero, sei ser honesta comigo e com os outros, não há razão para não acreditar em mim.